Quem se importa? Quem escuta? Quem lê?

domingo, 28 de dezembro de 2008


["Eleanor and Barbara", 1954 de Harry Callahan]

WALL•E


A Disney Pixar regressa em grande com um dos melhores do ano.

O seu tempo é infinito, assim como a sua dedicação e vontade. WALL•E cumpre a tarefa para a qual foi construído, reunir e compactar o lixo abandonado pelos humanos.

A paisagem adquire uma aparência apocalíptica. Entre os prédios erguem-se montanhas de detritos, consequência de uma sociedade munida pelo consumismo e comodidade. Há muito que os humanos abandonaram a Terra, optando viver no espaço. Para trás (acidentalmente) ficou um pequeno robô, WALL•E, que após tanto tempo em plena solidão adquire certas características: uma queda pelo coleccionismo, pela reunião de objectos do quotidiano humano entre eles; isqueiros, colheres, bonecos, uma cassete do musical "Hello Dolly" que assiste regularmente, assim como uma personalidade extremamente curiosa e divertida.

WALL•E leva uma vida pacata, até o dia em que recebe uma visita inesperada, seu nome é EVE e a sua missão é confiscar o planeta em busca de vida vegetal. Mas o que era eventualmente uma visita de rotina vem a tornar-se uma verdadeira aventura... Em que os seus heróis prometem desafiar as leis da gravidade para conseguírem alcançar os seus objectivos.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Blindness


Depois de vários anos a recusar-se vender os direitos do livro "Ensaio Sobre a Cegueira" - José Saramago rende-se finalmente aos encantos do aclamado realizador brasileiro - Fernando Meireles (" Cidade de Deus", "Fiel e Jardineiro").

Desde logo, tornou-se evidente que adaptar o prémio Nobel português da literatura, ao cinema, não iria ser tarefa fácil - tanto pela complexidade das suas personagens como também pela sua relação com o espaço, enquanto invisuais. Para isso destaca-se a fotografia de César Charlone que cumpre convenientemente a sua missão, exprimindo um grande cuidado em invocar a cegueira a partir da luz e dos planos, onde prevalecem as imagens queimadas, esbatidas e até desfocadas, as cores frias e muitas vezes uma abstracção dos elementos. Numa ou noutra cena as personagens parecem flutuar num "mar de leite" tal e qual como é descrito no livro.


O melhor: a interpretação de Julianne Moore e a fotografia de César Charlone (" Cidade de Deus" e "Fiel e Jardineiro").

O primeiro ser humano é atingido por uma misteriosa cegueira branca - vírus que rapidamente se propaga atingido muitos outros habitantes da cidade. Para lhe fazer frente, e visto o total desconhecimento, o Governo coloca os infectados de quarentena num velho hospital psiquiátrico. E o tempo passa... a chegada de cada vez mais doentes e a falta de alimento faz com que alguns dos demais infectados comecem a tirar o seu próprio partido. Largados ao abandono os sobreviventes terão de lutar.

Blindness
retrata personagens sem nome, num lugar desconhecido, num tempo indefinido. Retrata aqueles que perderam subitamente a visão, e uma mulher (Julianne Moore) que carrega consigo o fardo de ser a única que permanece ilesa à cegueira. Não se pode dizer que Moore seja a protagonista, porém à que admitir que nela recai toda a fonte de riqueza dramática da trama - além de ser nitidamente a personalidade mais explorada. Pena é, que outros não tenham tido o mesmo grau de atenção, como no caso de Danny Glover que se assume a certa altura como narrador, mas que pouco nos diz como personagem interveniente na história. Além disso Blindness peca também pela banda sonora que nada acrescenta as imagens - que transmite muito pouca emoção.
Globalmente as mulheres destaca-se, arrebatando-nos com momentos de plena beleza e serenidade, incorporando a força e a coragem num cenário atroz. Elas têm o dom de conseguir mudar o rumo da história.

A Cegueira é a metáfora utilizada para caracterizar o mundo onde vivemos, concretizando o fenómeno do homem de se encontrar permanentemente cego. Posso concluir que Blindness não consegue ser tão bom como "Cidade de Deus" ou "Fiel e Jardineiro", mas sem dúvida que este não lhe ficará indiferente.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Nos futuros dias de fantas...


Che de Steven Soderbergh será o filme de abertura do próximo Fantasporto.
Também The Good, the Bad, the Weird de Kim Ji-woon já faz parte do cartaz.
Espero com alguma impaciência que outros grandes filmes sejam anunciados pelo site oficial.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

[L'Avventura - Michelangelo Antonioni]

domingo, 14 de dezembro de 2008

Deixa-me contar-te a minha história

Que tantas histórias mais terei eu de te contar?...

Ouvi-a cantar naquela noite. Via-a fechar os olhos enquanto a voz saía da sua boca. Era impossível ser-lhe indiferente... aquela voz triunfava, era mais poderosa do que qualquer outro instrumento presente naquela sala. Eu queria chegar mais perto, desejava vê-la com mais nitidez e atenção. Aproximei-me do palco, das mesas, mais precisamente da mesa onde te encontravas. Estavas demasiado atento, demasiado hipnotizado para te dares conta da minha presença. Deves tê-la ouvido dezenas de vezes, contudo mantinhas aquele olhar húmido - idêntico ao olhar de uma criança, cheio de devoção e afecto. Como poderia eu ignorar isso? Foi então que percebi: o silêncio, o "nosso" silêncio havia sido substituído pela aquela voz.
Não vai há muito tempo que comecei a achar que o maior defeito dos homens era a cobiça. Não por tua causa, mas por todos os outros que conheci antes e depois de me casar. Algo me dizia que aqueles homens queriam mais e mais. É curioso, a traição é um prato demasiado fácil de confeccionar, também demasiado fácil de saborear, mas o pior vem depois... Não me "ralo" com o facto de ter tido as oportunidades e nunca as ter aproveitado. Elas não iam durar muito, pois não?
Também nomeei um defeito para as mulheres: a inveja. As mulheres têm inveja de tudo, do par de sapatos da outra, do rabo da outra, das notas dos filhos da outra, da pujança sexual da outra, do marido da outra e inclusivamente da voz da outra. Elas simplesmente querem tudo o que não têm, querem se tornar mais desejáveis e na altura do "desastre" acham que ele as deixou porque não fizeram a tal lipoaspiração que deviam ter feito no Verão. Porquê que é sempre o corpo o culpado? Porque não acreditam simplesmente - que as coisas não deram certo.
Enquanto a olhava ao espelho, tive consciência de umas tantas asneiras que fiz quando tinha a sua idade. Uma delas foi ter-me casado contigo demasiado cedo. Toda a gente me avisou que era uma loucura, toda a gente... é verdade, casei-me contigo quando tinha apenas 19 anos. Achei que ao estar casada o meu pai não poderia mais mandar em mim, adaptaria a minha vida as tarefas domésticas, iria ao cinema, fazia as compras e de vez enquando passaria pela escola de música para te visitar. Mas que sabia eu da vida com 19 anos?
Vamos deixar o passado para trás, estou farta de ser alimentada pelos poucos momentos felizes que realmente vivemos. O amor esgotou-se demasiado cedo e nunca mais conseguimos recuperar. É este o momento, quero o divorcio.

"Tua" - terceira parte da trilogia dos rios

Fé ou Esperança?


[Le Scaphandre et le papillon, 2007, Julian Schnabel]