Quem se importa? Quem escuta? Quem lê?

domingo, 28 de dezembro de 2008


["Eleanor and Barbara", 1954 de Harry Callahan]

WALL•E


A Disney Pixar regressa em grande com um dos melhores do ano.

O seu tempo é infinito, assim como a sua dedicação e vontade. WALL•E cumpre a tarefa para a qual foi construído, reunir e compactar o lixo abandonado pelos humanos.

A paisagem adquire uma aparência apocalíptica. Entre os prédios erguem-se montanhas de detritos, consequência de uma sociedade munida pelo consumismo e comodidade. Há muito que os humanos abandonaram a Terra, optando viver no espaço. Para trás (acidentalmente) ficou um pequeno robô, WALL•E, que após tanto tempo em plena solidão adquire certas características: uma queda pelo coleccionismo, pela reunião de objectos do quotidiano humano entre eles; isqueiros, colheres, bonecos, uma cassete do musical "Hello Dolly" que assiste regularmente, assim como uma personalidade extremamente curiosa e divertida.

WALL•E leva uma vida pacata, até o dia em que recebe uma visita inesperada, seu nome é EVE e a sua missão é confiscar o planeta em busca de vida vegetal. Mas o que era eventualmente uma visita de rotina vem a tornar-se uma verdadeira aventura... Em que os seus heróis prometem desafiar as leis da gravidade para conseguírem alcançar os seus objectivos.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Blindness


Depois de vários anos a recusar-se vender os direitos do livro "Ensaio Sobre a Cegueira" - José Saramago rende-se finalmente aos encantos do aclamado realizador brasileiro - Fernando Meireles (" Cidade de Deus", "Fiel e Jardineiro").

Desde logo, tornou-se evidente que adaptar o prémio Nobel português da literatura, ao cinema, não iria ser tarefa fácil - tanto pela complexidade das suas personagens como também pela sua relação com o espaço, enquanto invisuais. Para isso destaca-se a fotografia de César Charlone que cumpre convenientemente a sua missão, exprimindo um grande cuidado em invocar a cegueira a partir da luz e dos planos, onde prevalecem as imagens queimadas, esbatidas e até desfocadas, as cores frias e muitas vezes uma abstracção dos elementos. Numa ou noutra cena as personagens parecem flutuar num "mar de leite" tal e qual como é descrito no livro.


O melhor: a interpretação de Julianne Moore e a fotografia de César Charlone (" Cidade de Deus" e "Fiel e Jardineiro").

O primeiro ser humano é atingido por uma misteriosa cegueira branca - vírus que rapidamente se propaga atingido muitos outros habitantes da cidade. Para lhe fazer frente, e visto o total desconhecimento, o Governo coloca os infectados de quarentena num velho hospital psiquiátrico. E o tempo passa... a chegada de cada vez mais doentes e a falta de alimento faz com que alguns dos demais infectados comecem a tirar o seu próprio partido. Largados ao abandono os sobreviventes terão de lutar.

Blindness
retrata personagens sem nome, num lugar desconhecido, num tempo indefinido. Retrata aqueles que perderam subitamente a visão, e uma mulher (Julianne Moore) que carrega consigo o fardo de ser a única que permanece ilesa à cegueira. Não se pode dizer que Moore seja a protagonista, porém à que admitir que nela recai toda a fonte de riqueza dramática da trama - além de ser nitidamente a personalidade mais explorada. Pena é, que outros não tenham tido o mesmo grau de atenção, como no caso de Danny Glover que se assume a certa altura como narrador, mas que pouco nos diz como personagem interveniente na história. Além disso Blindness peca também pela banda sonora que nada acrescenta as imagens - que transmite muito pouca emoção.
Globalmente as mulheres destaca-se, arrebatando-nos com momentos de plena beleza e serenidade, incorporando a força e a coragem num cenário atroz. Elas têm o dom de conseguir mudar o rumo da história.

A Cegueira é a metáfora utilizada para caracterizar o mundo onde vivemos, concretizando o fenómeno do homem de se encontrar permanentemente cego. Posso concluir que Blindness não consegue ser tão bom como "Cidade de Deus" ou "Fiel e Jardineiro", mas sem dúvida que este não lhe ficará indiferente.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Nos futuros dias de fantas...


Che de Steven Soderbergh será o filme de abertura do próximo Fantasporto.
Também The Good, the Bad, the Weird de Kim Ji-woon já faz parte do cartaz.
Espero com alguma impaciência que outros grandes filmes sejam anunciados pelo site oficial.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

[L'Avventura - Michelangelo Antonioni]

domingo, 14 de dezembro de 2008

Deixa-me contar-te a minha história

Que tantas histórias mais terei eu de te contar?...

Ouvi-a cantar naquela noite. Via-a fechar os olhos enquanto a voz saía da sua boca. Era impossível ser-lhe indiferente... aquela voz triunfava, era mais poderosa do que qualquer outro instrumento presente naquela sala. Eu queria chegar mais perto, desejava vê-la com mais nitidez e atenção. Aproximei-me do palco, das mesas, mais precisamente da mesa onde te encontravas. Estavas demasiado atento, demasiado hipnotizado para te dares conta da minha presença. Deves tê-la ouvido dezenas de vezes, contudo mantinhas aquele olhar húmido - idêntico ao olhar de uma criança, cheio de devoção e afecto. Como poderia eu ignorar isso? Foi então que percebi: o silêncio, o "nosso" silêncio havia sido substituído pela aquela voz.
Não vai há muito tempo que comecei a achar que o maior defeito dos homens era a cobiça. Não por tua causa, mas por todos os outros que conheci antes e depois de me casar. Algo me dizia que aqueles homens queriam mais e mais. É curioso, a traição é um prato demasiado fácil de confeccionar, também demasiado fácil de saborear, mas o pior vem depois... Não me "ralo" com o facto de ter tido as oportunidades e nunca as ter aproveitado. Elas não iam durar muito, pois não?
Também nomeei um defeito para as mulheres: a inveja. As mulheres têm inveja de tudo, do par de sapatos da outra, do rabo da outra, das notas dos filhos da outra, da pujança sexual da outra, do marido da outra e inclusivamente da voz da outra. Elas simplesmente querem tudo o que não têm, querem se tornar mais desejáveis e na altura do "desastre" acham que ele as deixou porque não fizeram a tal lipoaspiração que deviam ter feito no Verão. Porquê que é sempre o corpo o culpado? Porque não acreditam simplesmente - que as coisas não deram certo.
Enquanto a olhava ao espelho, tive consciência de umas tantas asneiras que fiz quando tinha a sua idade. Uma delas foi ter-me casado contigo demasiado cedo. Toda a gente me avisou que era uma loucura, toda a gente... é verdade, casei-me contigo quando tinha apenas 19 anos. Achei que ao estar casada o meu pai não poderia mais mandar em mim, adaptaria a minha vida as tarefas domésticas, iria ao cinema, fazia as compras e de vez enquando passaria pela escola de música para te visitar. Mas que sabia eu da vida com 19 anos?
Vamos deixar o passado para trás, estou farta de ser alimentada pelos poucos momentos felizes que realmente vivemos. O amor esgotou-se demasiado cedo e nunca mais conseguimos recuperar. É este o momento, quero o divorcio.

"Tua" - terceira parte da trilogia dos rios

Fé ou Esperança?


[Le Scaphandre et le papillon, 2007, Julian Schnabel]

sábado, 18 de outubro de 2008

Sergio Leone Vs Ji-woon Kim


"The Good, The Bad, and The Ugly" De Sergio Leone, 1967


"The Good, The Bad, The Weird" De Ji-woon Kim, 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Nick Drake - Day is Done

Das Leben der Anderen


A Vida dos Outros
está nas suas mãos.


Por vezes quando se assiste a um bom exemplar da sétima arte é nos evidente, a razão pela qual sentimos tanta simpatia por esta arte e não por outra. É como se fôssemos alimentados pelas imagens, pelos sons e por vezes mais alimentados ainda pelo silencio. Depois, a memória obriga-nos a perder muita informação, muitas imagens, muitos sons... até restar apenas um pedaço daquilo que foi inicialmente ou, até não nos restar mais nada. Mas quando, para além das imagens e dos sons somos alimentados pelo prazer, aí, nessa altura nunca mais nos esquecê-mos.
"Porquê?" - é a questão essencial, a rainha das questões, a principal, a primeira, a indiscutível, a justa e justificável... o "Porquê", é algo tão importante para aquele que tem objectivos como o próprio ar que respira. E "A vida dos outros" fala disso mesmo, de alguém que mudou drasticamente "porque" numa determinada altura da sua vida compreendeu - que os objectivos dos outros eram bem mais importantes que os seus. Sentiu que deveria fazer alguma coisa pelo simples facto de achar que aquele - era o caminho. De certa forma, foi a única maneira de Wiesler encontrar a sua paz de espírito e apesar de ter de enfrentar as consequências dessa escolha, ele sabia que tinha feito a escolha certa - e tornou-se mais feliz por isso. Ele sacrificou os seu futuro promissor pela vida de duas pessoas que mal conhecia, pela vida dos "outros". Ele afeiçoou-se aos objectivos dos outros e fez deles seus também.

sábado, 27 de setembro de 2008

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Hot Fuzz


Nicholas Angel é um exemplar policia londrino, transferido para a esquadra da pacata vila de Sandford. Mas o que era eventualmente um lugar seguro, vem a tornar-se um desfio para a carreira e para a sanidade mental do policia em questão.

Rir a bom rir, numa paródia policial... absolutamente brilhante.

Vamos falar da Verdade

Ficámos em silêncio, com as nossas consciências a sussurrarem-nos ao ouvido. Ficámos parados, a sentir o cheiro um do outro e a distância, sem saber o que dizer. Eu falo sempre acerca das minhas fraquezas, típicas da juventude, como me dizes. E pela primeira vez falaste-me das tuas também. Eu nunca te tinha visto tão frágil e debilitado. Falamos de tudo e de nada e de nada, antes…

Eu pisquei os olhos, cerrei os lábios e engoli a saliva. Tu tocaste-me no cabelo, sem qualquer sentimento de culpa – vi isso nos teus olhos. Continuaste… tacteando-me o rosto, as faces, o nariz, olhos… depois pressionaste ambos os polegares, fazendo-os entrar na minha boca. Eu já nem sequer consegui engolir a saliva, nem consegui respirar. Sentindo a força com que os teus dedos entravam dentro de mim.

Não voltamos a falar nas semanas que se seguiram, fingimos, como dois mentirosos, que nada havia acontecido.

Eu continuei a cantar todas as noites nos bares habituais. E tu, como sempre, vinhas assistir. Sorrias amavelmente, davas alguns goles no whisky, batias-me palmas. Porém no final do espectáculo apenas te despedias com um “adeus” – adeus esse que me amargurava sorrateiramente a alma, fazendo-me duvidar do teu regresso, no dia seguinte.

Mas esse olhar nunca me enganou.

Algo aconteceu e foram apenas precisos mais alguns dias.

Foi num intervalo de um dos espectáculos, que não fora, nem de perto nem de longe, das minhas melhores noites… era apenas mais uma como tantas outras. Dirigi-me à casa-de-banho, salpiquei o rosto com água e olhei-me ao espelho. As olheiras haviam-se intensificado (antes sobrepostas por uma camada de espessa maquilhagem que se havia evaporado com o suor). “Não admira” – pensei, fazia algumas noites que não pregava olho, aproveitando-me do álcool e do vício do café, para me aguentar. Deixei cair a cabeça, soltando-a por momentos… ergui-a e olhei-me novamente ao espelho. Uma mulher olhava-me através do reflexo, fixamente. Parecia penetrar-me na alma. Era bonita, com uns longos cabelos castanhos e olhos cor de azeitona. Devia ter cerca de trinta anos...

Ficámos ali, duas mulheres, a olharem-se mutuante através do espelho, com falta de coragem (aparentemente) para se olharem directamente.

– Não está a ver quem sou?

Acho que arregalei os olhos nesse exacto momento, revirando o meu corpo e fazendo-me vê-la de frente.

– Sou a mulher do homem com quem andas a dormir.

Gritei dentro de mim… desesperada, enquanto ecoaram nos meus ouvidos aquelas letras, aquelas palavras, aquela frase. Tive nojo de mim mesma, dos meus pensamentos, das minhas lembranças. Tive nojo de te amar tanto e ao mesmo tempo da minha impotência em frente àquela figura. Ela não me bateu (coisa que eu fazia se tivesse acontecido comigo), nem tão pouco me insultou.

Eu deixei fugir uma lágrima, que me deve ter descido pelo rosto e caído no coração. Ouvi a minha voz, a melodia de uma canção fúnebre que eu cantava no meu enterro. Imaginei-nos aos dois, condenados com o suor a escorrer-nos do rosto de tanto prazer que estávamos a sentir… imaginei o teu rosto e o teu corpo quente sobre o meu. Senti receio, mas nunca arrependimento.

Ela prosseguiu de cabeça erguida, dizendo:

– Vamos falar da verdade.


"Tua" - terceira parte da trilogia dos rios
Diário

terça-feira, 22 de julho de 2008

*
Vamos falar da Verdade
Deixa-me contar-te a minha história
De óculos escuros
Sensíveis ao toque
Som: Jazz
Imagem: a avó
Discreta obsessão
Colectânea de odores
Morada enganada
De olhos fechados

porque que as frases soltas fazem para mim tanto sentido?...

domingo, 29 de junho de 2008

Cat Stevens - Father and Son ( Live )



Existem iluminados. Não existem?

domingo, 1 de junho de 2008

["Candy Cigarette", 1989 de Sally Mann]

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Dans Paris - momento musical



que o maior e brilhante amor perde o brilho
o sol sujo do dia que brilha
os sujeita ao tormento.
Eu tenho uma ideia irrefutável:
antes do ódio, antes do choque,
dos gritos e das discussões,
antes do arrependimento
e do desgosto.
Vamos terminar agora, por favor.
Não. Eu beijo-te e isso passa.
Pode ver.
Não me pode largar assim.
Achou que era capaz de me deixar
pendurada no grande amor
que precisa morrer.
Mas veja, eu prefiro as tempestades
inexplicáveis, a sua miserável ideia.
Antes do ódio, antes do choque,
dos gritos e discussões,
antes da tristeza e do desgosto.
Vamos terminar agora, dizes-me.
Mas beijas-me e isso passa,
eu posso ver
Não está largada assim
Eu podia te evitar ao máximo
mas o melhor agora é chegar.
Antes do ódio, antes do choque,
dos gritos e das discussões,
antes da tristeza,
antes do desgosto.
Vamos terminar agora, por favor.
Não eu te beijo e isso passa
Você pode ver.
Antes do ódio, antes do choque,
dos gritos e das discussões,
antes da tristeza,
antes do desgosto.
Vamos terminar agora, dizes-me.
Mas beijas-me e isso passa
Eu posso ver...

Não me pode largar assim.
Não me pode largar assim.

sábado, 24 de maio de 2008

[Banksy Drawing "Don't close your eyes"]

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Os melhores de 2007

de David Fincher

de David Lynch

de Cristian Mungiu

de William Friedkin

de Christophe Honoré

de David Cronenberg

Nota: Não estão por ordem de gostos, pois se assim fosse a escolha tornar-se-ia ainda mais difícil. Para quem ainda não os viu, são filmes que eu recomendo. Dois deles, o Dans Paris e Bug aparecem muitas vezes como filmes de 2006, e são realmente, contudo estrearam nas salas portuguesas no ano de 2007.
Bem... para quem gosta de cartazes, tal como eu, está aqui um excelente site: Movie Poster Awards

quinta-feira, 22 de maio de 2008

domingo, 18 de maio de 2008

28 anos depois...

Foi no dia 18, do mês de Maio (tal como hoje) que Ian Curtis há 28 anos cometeu o suicídio. Na noite anterior havia pedido à mulher que o deixa-se sozinho em casa. Fumou cigarros, esvaziou uma garrafa de whisky, pós a girar o vinil “The Idiot” de Iggy Pop, viu televisão, o filme “Stroszek” de Werner Herzog e escreveu uma carta em que a segunda frase era: “Já não aguento mais.”

Especula-se, ainda hoje a causa de tão prematura morte. Era o génio por detrás da banda, que ele mesmo escolheu o nome: Joy Divion. E ainda que uma pessoa tão próxima dele, como a mulher, tenha escrito um livro ("Touching from a Distance"), a verdadeira figura de Ian Curtis permanece uma incógnita.


Control (2007)


Um dos filmes mais esperados de 2007, sendo a primeira longa-metragem realizada pelo fotógrafo holandês Anton Corbijn.

O filme começa na adolescência de Curtis e termina com a sua fatídica morte, na véspera de uma digressão aos Estados Unidos, que iria catapultar a banda para o sucesso mundial. Ainda que filme siga com fidelidade os traços biográficos da vida de Curtis, não consegue em muitos dos casos arrebatar o espectador com momentos de tensão, arrepiantes, como seria de esperar. Sinceramente fiquei mais impressionada com algumas coisas que li antes de entrar na sala de cinema, do que propriamente quando lá entrei. Não quero com isto dizer que Corbijn não faz um bom trabalho, muito pelo contrário, ele esmera-se numa fotografia realmente excepcional (preto e branco) e consegue também encontrar um excelente actor para o papel central do filme - Sam Riley. Mas isso não é prova suficiente. A vida de Curtis tinha muito mais para dar, a sua personalidade era bem mais complexa do que aquilo que se vê na tela. Digamos que Corbijn tinha o texto e as imagens, mas não tinha a alma.


São os sonhos, os demónios, a música, os amores e a morte… são as questões existenciais que atormentam a vida de um jovem, é a doença que o acompanha num dado momento da sua vida, a relação com outra mulher e a sua perícia como compositor. Talvez Curtis tenha pensado que já não conseguia produzir/igualar tudo o que fez até à data, por isso desejou pôr fim à sua vida. Tinha 23 anos e estava no auge da sua carreira.

Galeria de Imagens


quarta-feira, 14 de maio de 2008

terça-feira, 13 de maio de 2008

Aberto Monteiro Fotografia





BIO.


Alberto Monteiro nasce no Porto em 1960.

Entre os anos 1975 a 1977 teve o seu primeiro contacto com a fotografia tendo, no então liceu, frequentado as aulas ali existentes. Obteve, assim, noções de fotografia e experiência, quer na tomada de imagens, quer na prática de laboratório a preto e branco.

Experimentando diversas técnicas fotográficas e revelando em laboratório próprio, desenvolveu, até 1979, vários projectos que abandonou em 1980.

Em 2001, após uma paragem de quase 20 anos, retoma a actividade fotográfica com grande intensidade, fotografando principalmente no seu meio preferido: a cidade. Ela, e as pessoas, são os motivos mais desenvolvidos.

Em um ano intenssíssimo de fotografia (2001/2002), tentou recuperar o tempo perdido nesta longa paragem, fotografando quase todos os dias. Neste percurso, apresentou trabalhos em diversas exposições individuais e colectivas, e em sites na internet.

Em permanente actividade e procura de novas linguagens na abordagem dos seus trabalhos, eis como se poderá classificar a sua postura actual.


sexta-feira, 25 de abril de 2008

Este quarto…


*

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto…
que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim…

Mario Quintana

domingo, 20 de abril de 2008

O regresso de Coppola


“Youth Without Youth - Uma Segunda Juventude” estreou dia 10 de Abril nas salas portuguesas e representa o regresso de Francis Ford Coppola à realização (depois de “Poder da Justiça” em 1997). Baseado no conto homónimo do escritor Romeno Mircea Eliade, conta com Tim Roth, Alexandra Maria Loura e Bruno Ganz nos principais papéis.



verdadeiro/falso

De trovador, a poeta, cantor multifacetado, politicamente incorrecto, ícone musical, porta voz da sua geração... Bob Dylan encarnou verdadeiramente diversas personagens ao longo da sua carreira, destacando-se na arrebatadora década de 60.
É difícil, senão impossível entrar numa sala de cinema e assistir a "I’m Not There" sem nunca sequer ter ouvido falar de Bob Dylan - da sua importância no panorama musical norte-americano. O filme do realizador Todd Haynes (Velvet Goldmine) deixa uma pergunta permanente Quem é Bob Dylan? - e se pensam que alguma vez terão resposta, desenganem-se pois os seis actores que interpretaram esta enigmática personagem, asseguram apenas a sua complexidade. São interpretações bem distintas, sendo que cada um deles é detentor de uma parte de Dylan e todos se complementam... são eles: Cate Blanchett, Christian Bale, Heath Ledger, Richard Gere, Marcus Carl Francklin e Ben Whishaw.



Não resisto a fazer um comentário à fabulosa interpretação de Cate Blanchett. A actriz que foi finalmente reconhecida no papel de Katharine Hepburn ("O Aviador" de Martin Scorsese) que lhe valeu o Óscar de melhor a actriz secundária em 2004.
Para começar Blanchett é mesmo denominada de Bob Dylan - e das seis interpretações é a que melhor se assemelha ao cantor. Representa alguns episódios verídicos da sua carreira, encarnando de uma forma espantosa os maneirismos desta controversa figura do folk.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

implícita natureza

by: Joana Brás
(eu) no Paraíso


"Guardo os segundos perdidos, guardo os pedaços de papel amarrotados e espalhados um pouco por toda a parte. Guardo os segredos e os medos, transformo-os em pequenas histórias que se contam, por aqui e por ali, no eco da minha memória. Guardo os sonhos e os pesadelos, mas guardo aquilo que ainda não vivi, aquilo que viverei."

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Figuras insufláveis no metro


Nova York
Metro
Figuras insufláveis
Plástico reciclado
Boa ideia!!!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Estudo de nu

Essa linha que nasce nos teus ombros,

Que se prolonga em braço, depois mão,

Esses círculos tangentes, geminados,

Cujo centro em cones se resolve,

Agudamente erguidos para os lábios

Que dos teus se desprenderam, ansiosos.


Essas duas parábolas que te apertam

No quebrar onduloso da cintura,

As calipígias ciclóides sobrepostas

Ao risco das colunas invertidas:

Tépidas coxas de linhas envolventes,

Contornada espiral que não se extingue.


Essa curva quase nada que desenha

No teu ventre um arco repousado,

Esse triangulo de treva cintilante,

Caminho e selo da porta do teu corpo,

Onde o estudo de nu que vou fazendo

Se transforma no quadro terminado.


JOSÉ SARAMAGO em os Poemas Possíveis, 1966

quinta-feira, 27 de março de 2008

Videodrome - Experiência Alucinante

David Cronenberg realiza em 1983 Videodrome - Experiência Alucinante. O filme marca o início do movimento independente/comercial dos anos 80 em Hollywood, sendo o primeiro a dar a devida projecção a Cronenberg como realizador (apenas três anos mais tarde realiza The Fly - A Mosca).
Videodrome narra a história de Max Renn (James Woods), director de uma estação de televisão por cabo, que procura uma espécie de sensação do mundo do vídeo, algo novo, capaz de chamar atenção de um maior número de espectadores. É por esta altura que Max fica deslumbrado com algo que nunca tinha visto - Videodrome. A sua origem era inicialmente desconhecida, mas o vídeo reunia um misto de violência e sexo realista, onde os seus protagonistas eram assassinados (na realidade - snuff movie, mas que Max não sabia inicialmente). O visionamento deste vídeo provocava graves perturbações a quem assistisse e posteriormente daria origem ao nascimento de um tumor cerebral. Na ânsia de descobrir mais acerca deste estranho objecto de prazer Max envolve-se no mundo da imagem transmitida pela televisão, ao mesmo tempo que se relaciona com uma locutora de rádio Nicki Brand (Deborah Harris - a Blondie da banda com o mesmo nome), e ambos iniciam uma espécie de culto a Videodrome.

Com uma perspectiva pessimista acerca da televisão, mais precisamente do seu conteúdo bizarro, porém que não deixa de ser atractivo, ainda que exagerado. Este filme apresenta-nos um conteúdo muito actual, visto que hoje somos afectados pelas imagens que nos chegam através de cada vez mais meios.



Visualmente inquietante, Videodrome mostra série de grandes momentos, ricos em subjectividade e com a ausência dos clichés a que estamos hoje em dia habituados. Os riscos são compensados, pois Experiência Alucinante é um thriller ambicioso que pressupõe uma análise mais aprofundada e na qual nos damos conta de alguns pormenores com muitíssimo interesse.
Logo à partida vê-se na tela o que a personagem principal está a sentir. Vemos aquilo que este vê, não conseguindo, por vezes distinguir o real do imaginado, fruto das suas perturbações. Uma abertura estranha aparece na barriga de Max, na qual são depositadas cassetes e um revólver. Acontece em pouco de tudo. Os objectos inanimados ganham vida, revestindo-se de carne, pele… assim como a personagem de Nicki que aparece esporadicamente no ecrã televisivo (já morta).
Videodrome foi uma película que marcou o panorama do cinema em Hollywood, nos anos 80, pois encarna um espírito perturbante e até invulgar. E é a prova viva de que apesar de já ter sido feita muita coisa, existe ainda todo um Universo por explorar.

Porque eu sou a Inspiração e a Criação

Sandro Bottilcelli's wedding gift

A living flower - Matisse

A shower of gold - Klimt

The Model - Milo Manara

domingo, 9 de março de 2008

Este País não é Para Velhos


Baseado no romance Cormac McCarthy, autor de All The Pretty Horses (livro adaptado para o cinema por Billy Bob Thornton com o titulo Espírito Selvagem, 2000), os irmãos Joel e Ethan Cohen lançaram-se na escrita do argumento, adaptando-o com fidelidade, inclusivamente as cenas de acção que são já bem detalhadas no livro.
Foi o grande vencedor dos Óscares deste ano, tendo levado para casa os prémios de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Actor Secundário.
Rotulado de Western urbano, No Country for Old Men passa-se na década de 80.
Quando Llewelyn Moss (Josh Brolin), um caçador, se depara com o cenário de vários cadáveres, um carregamento de heroína e uma mala com 2 milhões de dólares, apodera-se rapidamente da quantia aliciado pela possibilidade de enriquecer facilmente. Contudo o seu acto desencadeia uma série de crimes violentos causados por Anton Chigurh (Javier Bardem) um inteligente e manipulador assassino, contratado para recuperar o conteúdo da mala. Este revela-se a reencarnação do mal, capaz de brincar ao cara e coroa para decidir o futuro das suas vítimas.
A violência esta presente em quase todo o filme, a frieza com que se desencadeiam os acontecimentos e a velocidade é realmente estonteante.
O único que parece impressionado é o xerife Bell, interpretado por Tommy Lee Jones, a personagem que está ausente e simultaneamente presente no drama, procurando recompor a paz, inclusive a do seu espírito.
É um jogo de apanhar ou ser apanhado, uma caçada humana que parece interminável. E a exposição de sentimentos banais do homem comum, como a cobiça, vingança, o orgulho enfim… em que o risco não compensa. Mantém o suspense e a trama é felizmente imprevisível, apesar de nunca acontecerem grandes reviravoltas.
Destaca-se os diálogos bem conseguídos, que parecem suportar em si mesmos uma atmosfera pesada, todo o clima dramático da história. E a personagem que valeu a Bardem óscar deste ano de melhor actor secundário, mas que se distancia e muito das suas reais capacidades, do tipo de papeis impressionantes pelos quais nos presenteou no passado (Before Night Falls e Mar adentro). Esta personagem não impressiona, é o estereótipo de assassino impiedoso e inexpressivo, que solta uma ou outra palavra cautelosamente pensada para impressionar as vítimas.
De resto recorda-se o título do filme, que remete a um país carregado de violência, onde os fracos/velhos não conseguem viver. Onde o próprio título deixa uma mensagem moral, não de reconforto mas de pessimismo - e é como quem diz: Que se salvem os fortes (em todos os aspectos).