Quem se importa? Quem escuta? Quem lê?

quinta-feira, 27 de março de 2008

Videodrome - Experiência Alucinante

David Cronenberg realiza em 1983 Videodrome - Experiência Alucinante. O filme marca o início do movimento independente/comercial dos anos 80 em Hollywood, sendo o primeiro a dar a devida projecção a Cronenberg como realizador (apenas três anos mais tarde realiza The Fly - A Mosca).
Videodrome narra a história de Max Renn (James Woods), director de uma estação de televisão por cabo, que procura uma espécie de sensação do mundo do vídeo, algo novo, capaz de chamar atenção de um maior número de espectadores. É por esta altura que Max fica deslumbrado com algo que nunca tinha visto - Videodrome. A sua origem era inicialmente desconhecida, mas o vídeo reunia um misto de violência e sexo realista, onde os seus protagonistas eram assassinados (na realidade - snuff movie, mas que Max não sabia inicialmente). O visionamento deste vídeo provocava graves perturbações a quem assistisse e posteriormente daria origem ao nascimento de um tumor cerebral. Na ânsia de descobrir mais acerca deste estranho objecto de prazer Max envolve-se no mundo da imagem transmitida pela televisão, ao mesmo tempo que se relaciona com uma locutora de rádio Nicki Brand (Deborah Harris - a Blondie da banda com o mesmo nome), e ambos iniciam uma espécie de culto a Videodrome.

Com uma perspectiva pessimista acerca da televisão, mais precisamente do seu conteúdo bizarro, porém que não deixa de ser atractivo, ainda que exagerado. Este filme apresenta-nos um conteúdo muito actual, visto que hoje somos afectados pelas imagens que nos chegam através de cada vez mais meios.



Visualmente inquietante, Videodrome mostra série de grandes momentos, ricos em subjectividade e com a ausência dos clichés a que estamos hoje em dia habituados. Os riscos são compensados, pois Experiência Alucinante é um thriller ambicioso que pressupõe uma análise mais aprofundada e na qual nos damos conta de alguns pormenores com muitíssimo interesse.
Logo à partida vê-se na tela o que a personagem principal está a sentir. Vemos aquilo que este vê, não conseguindo, por vezes distinguir o real do imaginado, fruto das suas perturbações. Uma abertura estranha aparece na barriga de Max, na qual são depositadas cassetes e um revólver. Acontece em pouco de tudo. Os objectos inanimados ganham vida, revestindo-se de carne, pele… assim como a personagem de Nicki que aparece esporadicamente no ecrã televisivo (já morta).
Videodrome foi uma película que marcou o panorama do cinema em Hollywood, nos anos 80, pois encarna um espírito perturbante e até invulgar. E é a prova viva de que apesar de já ter sido feita muita coisa, existe ainda todo um Universo por explorar.

Porque eu sou a Inspiração e a Criação

Sandro Bottilcelli's wedding gift

A living flower - Matisse

A shower of gold - Klimt

The Model - Milo Manara

domingo, 9 de março de 2008

Este País não é Para Velhos


Baseado no romance Cormac McCarthy, autor de All The Pretty Horses (livro adaptado para o cinema por Billy Bob Thornton com o titulo Espírito Selvagem, 2000), os irmãos Joel e Ethan Cohen lançaram-se na escrita do argumento, adaptando-o com fidelidade, inclusivamente as cenas de acção que são já bem detalhadas no livro.
Foi o grande vencedor dos Óscares deste ano, tendo levado para casa os prémios de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Actor Secundário.
Rotulado de Western urbano, No Country for Old Men passa-se na década de 80.
Quando Llewelyn Moss (Josh Brolin), um caçador, se depara com o cenário de vários cadáveres, um carregamento de heroína e uma mala com 2 milhões de dólares, apodera-se rapidamente da quantia aliciado pela possibilidade de enriquecer facilmente. Contudo o seu acto desencadeia uma série de crimes violentos causados por Anton Chigurh (Javier Bardem) um inteligente e manipulador assassino, contratado para recuperar o conteúdo da mala. Este revela-se a reencarnação do mal, capaz de brincar ao cara e coroa para decidir o futuro das suas vítimas.
A violência esta presente em quase todo o filme, a frieza com que se desencadeiam os acontecimentos e a velocidade é realmente estonteante.
O único que parece impressionado é o xerife Bell, interpretado por Tommy Lee Jones, a personagem que está ausente e simultaneamente presente no drama, procurando recompor a paz, inclusive a do seu espírito.
É um jogo de apanhar ou ser apanhado, uma caçada humana que parece interminável. E a exposição de sentimentos banais do homem comum, como a cobiça, vingança, o orgulho enfim… em que o risco não compensa. Mantém o suspense e a trama é felizmente imprevisível, apesar de nunca acontecerem grandes reviravoltas.
Destaca-se os diálogos bem conseguídos, que parecem suportar em si mesmos uma atmosfera pesada, todo o clima dramático da história. E a personagem que valeu a Bardem óscar deste ano de melhor actor secundário, mas que se distancia e muito das suas reais capacidades, do tipo de papeis impressionantes pelos quais nos presenteou no passado (Before Night Falls e Mar adentro). Esta personagem não impressiona, é o estereótipo de assassino impiedoso e inexpressivo, que solta uma ou outra palavra cautelosamente pensada para impressionar as vítimas.
De resto recorda-se o título do filme, que remete a um país carregado de violência, onde os fracos/velhos não conseguem viver. Onde o próprio título deixa uma mensagem moral, não de reconforto mas de pessimismo - e é como quem diz: Que se salvem os fortes (em todos os aspectos).

Robert Bansky - Graffiti


Bill Brandt - Fotografia

["Portrait of a Young Girl", Eaton Place, London, 1955, Bill Brandt]

Frase de Bill Brandt:
"Um fotógrafo deve possuir e preservar as faculdades receptivas de uma criança que olha o mundo pela primeira vez."

sábado, 8 de março de 2008

FantasPorto 2008


Chegou ao fim o festival mais esperado dos últimos tempos, Fantasporto. Muita coisa poderia ser dita e muito ainda ficaria por dizer, apesar disso, e sendo apenas o meu segundo ano, confesso que este festival já faz parte da minha vida. São muitas as coisas que se contam da parte de fora da sala de cinema, que fazem as delicias do momento, a dedicação que temos em frente do ecrã, a emoção em assistir a mais uma sessão, cansados, mas sem dúvida felizes.